Interludio dominical
Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.
Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão —
Porque não tinha que ser.
Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.
Fernando Pessoa
1 Comments:
Ha de ser cosa del destí que pessoa signifique persona: és el resultat del desdoblament de la personalitat d’aquest poeta que feia servir noms diferents, inventats, per a donar veu a les seves creacions. Alberto Caeiro, Alvaro de Campos i Ricardo Reis són els heterònims que utilitzava per a despersonalitzar-se i així deixar fluir la poesia modernista i futurista que conreava.
I com diu el pròleg d’un llibre de Paul Auster, ser un escriptor és convertir-se en un estrany, en un estranger: has de començar a traduir-te a tu mateix. Escriure és un cas de suplantació de la personalitat: és fer-te passar per un altre.
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